EXERCÍCIO PROFISSIONAL: A ATUAÇÃO NA ÁREA DE COMUNICAÇÃO VISUAL
Publicado em Revista AU | ano 30 | número 255 | junho 2015
ENTREVISTA COMPLETA:
1. Quais são os pré-requisitos para os arquitetos que querem atuar na área de comunicação visual?
Definição e Histórico:
Comunicação Visual é complexa e abrangente, pois é uma forma de expressão que se utiliza e se comunica todos os componentes visuais: sinais abstratos, sinais grafo técnicos idiomas, signos, imagens das mais variadas, gráficos em geral, ou seja tudo o que pode ser visualizado.
Podemos dizer que o conceito mais abrangente seria a da Programação Visual que, na verdade, seria um conjunto de técnicas que nos permite planejar e ordenar a forma pela qual se cria e os elementos da comunicação visual. O emprego da Programação Visual vem sendo feito há muito tempo, desde o início da humanidade de forma intuitiva, através do conhecimento tácito, mas podemos dizer que sua estruturação com relação aos pré-requisitos, fundamentos com base científica, começou em 1919 na Bauhaus. Foi nesta escola que, num momento muito importante da Revolução Industrial e da produção massificada, a mercantilização de produtos e a concorrência entre fabricantes, se torna um marco nas origens do design e consequentemente na Programação Visual.
Formação Acadêmica:
A formação acadêmica em Programação Visual é promovida pelas escolas técnicas de Design e Faculdades, cujo conteúdo é extremamente variado. No Brasil, em função da ausência destas escolas e faculdades, estes conteúdos eram supridos por disciplinas das Faculdades de Belas Artes, de Arquitetura entre outras.
No caso específico da Arquitetura, a própria Arquitetura sendo uma profissão antiga quanto a comunicação visual, também só teve início como disciplinas da Escolas de Belas Artes no Rio de Janeiro (1816) e na Escola Politécnica de São Paulo (1893).
No Brasil, a Escola que consideramos pioneira a oferecer habilitação específica e superior na área da Programação Visual, Design, Desenho de Produtos entre outras, foi a ESDI- Escola Superior de Desenho Industrial (1962).
Em 1934 temos a fundação da Universidade de São Paulo que incorpora a Escola Politécnica e, em 1948, a criação da Faculdade de Arquitetura, desmembrada do Departamento de Engenharia Civil da Politécnica.
Em 1931 a Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, que tinha Artes Plásticas, Arquitetura, entre outros, incorpora Urbanismo e passa a se integrar a Universidade do Rio de Janeiro. Em 1945 passa a ser Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Por este rápido resumo, podemos perceber que tanto a Arquitetura, como a Comunicação Visual, estão alicerçadas na convergência entre saberes da humanidade, das artes e das técnicas. Para a boa formação de um Profissional ele precisa mesclar estas áreas, onde ele não é apenas um humanista, um artista ou um técnico, mas a soma dos três numa proporção equilibrada e simultânea.
2. Que cursos complementares são interessantes?
Os Arquitetos formados nas mais de 200 faculdades existentes no país tem uma formação abrangente nestas três áreas, mas generalista. Na graduação esta formação ampla e multifacetada deixa em aberto a especialização e este é um problema de difícil resolução porque não se pode ter uma Escola para a formação de Arquitetos, em que os saberes específicos da síntese, da projetação e da criação não sejam temáticas nas mais variadas áreas da humanidade, das artes e das técnicas.
Sugerimos, que durante o curso de graduação, seja feita pelo aluno uma reflexão permanente e se a opção for pela programação visual e o exercício profissional ou acadêmico nesta área, faça uma pesquisa de formação de cursos inter-unidades centrado no design, desenho industrial, projeto gráfico, propaganda e publicidade.
3. Como foi no seu caso? Você poderia contar como ingressou nessa área?
O nosso caso específico tem tudo a ver com esse histórico. Prestei vestibular em 1964 e ingressei no curso da FAUUSP em 1965. Nas reformas de 1962 e 1968 que definiram a estrutura curricular com base em uma visão multidisciplinar, todas as questões anteriores foram analisadas e o grande desafio foi selecionar, criar e conceituar as disciplinas dentro daquela realidade, ou seja, o grande desafio contemporâneo. Foi a articulação entre os conteúdos profissionais que integram desde a sua fundação como unidade autônoma dentro da universidade e sua finalidade tanto acadêmica, como profissional dentro daquela nova realidade, no contexto de toda universidade que a comunicação visual, desenho industrial e paisagismo ficaram incorporados a arquitetura, pois não haviam faculdades específicas para estes conteúdos o que ampliou o espectro de escalas e práticas de projetos desde o sistema regional, ambiental do espaço natural e artificial até o espaço objeto isolado e sua composição plástica, estética e material.
Em 1966, no 2°ano da Faculdade comecei a prestar serviço para vários arquitetos e firmas. O curso era integral e isso nos obrigava a trabalhar a noite e nos fins de semana. Por uma série de fatores ligados a minha história familiar, ou seja, o varejo comecei a prestar serviço para uma fornecedora de móveis e instalação para este segmento.
Com os diversos clientes, fazíamos projetos de arquitetura, desenhávamos mobiliários, criávamos identidades visuais e definíamos um sistema de design gráfico ambiental dando uma unidade e desenvolvendo um processo subliminar para atrair a sua clientela.
4. Como é o dia a dia de trabalho do arquiteto que trabalha com programação visual?
O dia a dia, hoje, está mais ágil na produção de desenhos e na arte-finalização das imagens em função das ferramentas digitais e os equipamentos de impressão. Antigamente era necessária uma equipe enorme e todo procedimento era manual, praticamente um artesanato.
Na parte da criação a situação praticamente não mudou e não mudará, pois, depende do autor e do seu conhecimento e competência.
5. Quais são os desafios dessa atividade?
O design de comunicação deve ser permanentemente e plenamente integrado a tecnologia avançada, tanto da informática, como da impressão gráfica. Os produtos e serviços são extremamente variados: vai da criação de identidades visuais e suas regras, sistema de sinalização e seus suportes, padrões gráficos e cromáticos que ambientalizam o espaço externo e interno na arquitetura e no urbanismo, embalagens, livros, cartazes, computação gráfica, animação, homepage, comunicação interativa com o envolvimento além da imagem, a sonoridade e as vezes até odores, iluminação interna e externa potencializada pelas novas tecnologias e muito outros.
6. Como é a remuneração do profissional que se especializa em comunicação visual?
Como toda a área de criação esta é uma questão extremamente complexa. Depende de vários fatores que vão desde a competência criativa até a sensibilidade mercadológica do escritório ou do profissional autônomo.
Nessa área temos o problema da abrangência e da complexidade midiática. A abrangência pode ser local, regional, nacional ou internacional e midiática, que depende da forma que vai ser divulgado o trabalho.
O mercado está impregnado de autodidatas ou por profissionais que fazem publicidades e que muitas vezes apresentam deficiências por não ter a formação adequada.
Portanto a remuneração adequada esta ligada a um processo lento e gradual ligado a ética e a competência na acumulação sistemática de reconhecimento profissional.
7. Onde estão as maiores oportunidades de situação de mercado atualmente? (em projetos de grande porte? Em projetos menores? Em projetos para a administração pública? Em projetos corporativos?)
Pela nossa experiência que teve início em 1966, as oportunidades estão em todas as áreas.
Dizemos isto, pois, trabalhamos em todas e continuamos prestando sistematicamente comunicação visual aplicada a arquitetura e urbanismo, onde, sob a égide da contemporaneidade as competências da programação visual e do desenho industrial fundiram-se e o desenvolvimento sistêmico de identidade corporativa e ambiental é um dos nossos trabalhos mais atuais. No ramo do varejo, onde iniciamos e de produtos em geral é permanente e necessitam de redesenho contínuo para adaptação aos avanços midiáticos e rejuvenescimento.
8. Por fim, que dicas você pode dar para quem quer ingressar neste segmento?
É um segmento extremamente próspero e em contínuo desenvolvimento. Como toda a atividade tem que ser prazerosa e hoje totalmente dependente não na sua criação, mas no seu desenvolvimento e arte finalização dos recursos eletrônicos, onde somos obrigados a lidar com a informática onde quer que estejamos. Como na Arquitetura, a Programação Visual depende dessas ferramentas que vão se aperfeiçoando e dando mais condição de transformar a utopia em realidade.